quinta-feira, 18 de outubro de 2012

CRISTIANISMO CONDICIONADO


Recentemente conversando com uma amiga cristã sobre a vivência da fé na atualidade começamos a refletir sobre o que é essencial no exercício da fé. Em nosso diálogo comparávamos a igreja institucionalizada com o modo livre como viviam as primeiras comunidades, sem templo, sem liturgia, sem instrumentos musicais, sem microfones, nem púlpitos, sem datashow, sem ar condicionado e outras tecnologias cuja falta hoje inviabilizaria o culto na perspectiva de alguns.
Por essas e outras facilidades  o templo foi equivocadamente transformado no centro da prática da fé e do testemunho cristãos. A fé cristã, portanto, se tornou condicionada ao templo, um cristianismo de estufa. Por causa disso se faz necessário, para sua sobrevivência, dotar o templo de todos os artefatos tecnológicos para maior conforto dos participantes e melhor qualidade do espetác..., digo, do culto.
Não se discute a importância desses itens no atual contexto da sociedade.  Mas, ainda que se reconheça a utilidade da tecnologia nas celebrações, não se pode cair no absurdo de fazer dela o fator decisivo para que o culto aconteça, ou seja mais animado, ou que seja mais inspirativo.
 A intensidade do culto está, em verdade, atrelada à profundidade da vida espiritual do povo que se reúne para adorar, afinal – perdoem-me repetir essa afirmativa tão conhecida no meio evangélico -  é em cada adorador que habita o Espírito Santo e não nos equipamentos ou no templo.
O culto comunitário, portanto, não é responsabilidade exclusiva do pastor, dos músicos, ou de alguma autoridade eclesiástica, mas da congregação. Cada discípulo é um ministro (servo) chamado a servir a Deus com sua adoração. E esta, no culto comunitário, apenas ressoa aquilo que cada um vive no seu cotidiano.
Além disso, o culto comunitário não tem a finalidade de atender a gostos estéticos ou emocionais de seus participantes. Deve ser reconhecido como um espaço de serviço a Deus cujo objetivo, segundo  I Co 14:26-30, é a edificação do “corpo”, isto é da comunidade, através das orações, da instrução e do encorajamento mútuo entre os irmãos. O culto comunitário deveria ser mais do que simples ajuntamento para cantar.
Nessa perspectiva o templo, com seu aparato se transformou num fator de acomodação viciante que vem reduzindo a experiência de culto a um momento de entretenimento, porque cada pessoa, geralmente, se dirige ao templo com suas expectativas voltadas para aqueles que farão o culto: seja a equipe de louvor, o pastor, etc..
Conquanto se deva primar sempre pela excelência em tudo  – e esse é um mandamento bíblico – não se pode confundir excelência técnica com unção espiritual. O cristão espiritualmente maduro perceberá a diferença. Neste assunto é perfeitamente aplicável o princípio da oferta da viúva pobre quando  Jesus observou que o montante de recursos ofertados pela maioria não se comparava em qualidade às duas moedinhas daquela senhora. 

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