II Ts 2:1-4; Gl 1:8,9
Havia uma inquietação na Igreja
de Tessalônica sobre o fim dos tempos e a volta de Jesus. Paulo explicava esse
assunto a seus destinatários em função de boatos, que teriam sido extraídos do
próprio ensino de Paulo contidos em suas cartas, afirmando que Jesus já teria
retornado. Para tranquilizar aqueles crentes, Paulo esclareceu que tal evento
só ocorrerá após a “apostasia”, ou seja, um movimento generalizado de gente
“negando da fé em Cristo.”
Isso significa que um dos itens
que precederá o esperado acontecimento será uma grande e inequívoca onda de
descrença geral que atingirá, até mesmo, muitos discípulos que desistirão das
fileiras do evangelho de Cristo e se entregarão, objetivamente, a um amargo
ceticismo quanto a Jesus e as promessas do evangelho. A meu ver dois fenômenos
sociais, que se desenvolvem atualmente, configuram-se como indicadores dessa
incredulidade que haverá de anteceder a vinda de Cristo.
Primeiro, a militância em favor
do ateísmo, que ora se desenvolve no mundo ocidental contestando qualquer tipo
de religião, é um fato novo na história. Sempre houve céticos, agnósticos, ateus,
mas se limitavam a manter seus posicionamentos contrários à fé, ou mesmo
abertamente contra Deus, porém, não chegavam a empreender uma apologia em
defesa do ateísmo.
O que se vê hoje é uma espécie de
“evangelização ateísta”, uma verdadeira cruzada partindo de cientistas que, em
nome da ciência, declararam uma guerra pessoal contra o exercício da fé,
especialmente da fé cristã. Representativo desse movimento é a militância
pró-ateísmo liderada pelo Dr. Richard Dawkins, biólogo britânico renomado e autor
do livro “Deus, um delírio” dentre uma extensa bibliografia na área científica.
Particularmente nesse livro de 2007, o Dr. Dawkins afirma que seu objetivo é
provocar os religiosos, convictos ou convencidos, e levá-los a trocarem sua
crença pelo “orgulho ateu”. Contraditoriamente, os defensores desse movimento, submetem-se à ditatura da ciência a quem
atribuem um status de infalibilidade tão radical que ela acaba se tornando um
novo deus.
Um segundo movimento, que vejo
como manifestação dessa apostasia, é a mercantilização da fé manifesto na
“teologia da prosperidade”. E aqui é
necessário bastante atenção porque quando se fala desse tema todos, geralmente,
só têm em foco aquelas comunidades claramente identificadas com o movimento
neopentecostal com sua ênfase à posse de saúde, bens e dinheiro como sinal de
filiação a Deus. Há, no entanto, um amplo espectro de igrejas ditas
tradicionais ou históricas que, apesar de não serem tão escancaradamente
defensoras dessa “teologia”, estão absorvendo em doses homeopáticas seus
elementos numa demonstração de velada desconfiança com os princípios da “antiga
história” do evangelho.
A teologia da prosperidade, como
já se convencionou chamar, representa uma clara demonstração de desistência do
evangelho da cruz, tal como apresentado nas Escrituras. É a mais sutil e
ameaçadora força contra o evangelho de Cristo da contemporaneidade, porque se
inseriu no interior das comunidades cristãs evangélicas levando cativas suas
lideranças (cf. Neemias 4:11) É perigosa por não ser imediatamente identificada
como um inimigo da cruz. O uso da linguagem religiosa cristã ilude a maioria.
Além disso, a utilização de textos bíblicos, ainda que com interpretação
grosseiramente manipulada, dá-lhe uma aparência respeitável ante a maioria dos
evangélicos. A falta de uma sólida cultura bíblica entre os crentes tem feito muitos
irmãos (ãs) sucumbirem aos argumentos mercantilistas que permeia esse novo
discurso teológico.
Como se pode ver, a militância pró-ateísmo
e a teologia da prosperidade são movimentos com características opostas, que,
num primeiro olhar não tem qualquer relação e, de fato, em termos de conteúdo
não há entre eles qualquer conexão. Porém, tem o poder de produzir os mesmos
efeitos na vida de muitas pessoas: o
esfriamento na fé e a progressiva descrença em Deus. O primeiro, de maneira aberta
conclamando ao ateísmo e atraindo aqueles de fé incipiente. O segundo, desvirtuando
os conteúdos do evangelho esvaziando-o de seu verdadeiro significado e
transformando-o em promessas de riqueza material, saúde inquebrantável e status
social elevado neste mundo. O poder de destruição deste ultimo, porém, é infinitamente maior.
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