Dia
17/07/2013, Xique-Xique, Bahia.
Hoje
uma pequena equipe formada por Jaderson, Adenilson, Dino, Rose e Creuza, além de Cristina e Edson da Igreja
Congregacional de Xique-Xique e Paulo,
guarda da escola onde funciona o Projeto Fonte do Saber, deslocaram-se até a ilha Juremal onde Cristina desenvolve um
trabalho de evangelização de crianças.
Cristina converteu-se em 2010 e desde então começou essa atividade com as crianças da Ilha ao perceber a grande carencia na qual vivem. Cristina vive de um pequeno comércio de gêneros alimentícios e, por ter parentes na Ilha, mantém contato permanente com essa comunidade. Ela disse que existem cerca de 20 crianças e adolescentes de 04 a 14 anos.
Cristina converteu-se em 2010 e desde então começou essa atividade com as crianças da Ilha ao perceber a grande carencia na qual vivem. Cristina vive de um pequeno comércio de gêneros alimentícios e, por ter parentes na Ilha, mantém contato permanente com essa comunidade. Ela disse que existem cerca de 20 crianças e adolescentes de 04 a 14 anos.
Aos sábados Cristina se desloca para fazer seu trabalho como vendedora de pão, bolachas e sonho. Após desincumbir-se de suas obrigações ela reune as crianças num salãozinho e conta histórias de Jesus, dá instruções sobre higiene e orienta sobre outros temas importantes. Depois ela distribui lanche completando a alegria da garotada. Cristina afirmou que um dos problemas que mais ameaça as criancas, especialmente as meninas, e a pedofilia. Disse-nos ela que quando nas meninas começa a esboçar o surgimento dos seios os homens – inclusive casados - já ficam de olho. É uma situação assustadora que se perpetua pela ausência de orgãos de defesa e proteção da infância e juventude agravada pela falta da ação policial na Ilha deixando essas crianças e adolescents à mercê dos criminosos. Durante nossa visita conhecemos uma garota de treze anos com um filho de dois meses. O pai do bebê é um homem casado e, é claro, não dá a mínima assistência.
Não é possível chegar à Ilha de automóvel. Só é acessível de moto, de bicicleta, ou de jegue. Este ultimo é um recurso que praticamente não se usa mais, mesmo nos rincões mais remotos do Norte e Nordeste. O cenário das pequenas cidades e povoados foi progressivamente dominado primeiro pelas bicicletas e agora, cada vez mais, pelas motocicletas. É necessário fazer uma pequena travessia de um estreito do São Francisco que separa a Ilha do continente numa canoa motorizada. Para Rose e Creuza viajar nesse tipo de embarcação foi uma novidade. O trajeto em terra fizemos em 04 motocicletas por uma trilha estreita e poeirenta. Nalguns trechos era necessário descermos dos veículos para atravessarmos pequenas pontes chamadas “mata-burros”. Consistem em estacas de madeira estendidas paralelas umas às outras atravessadas sobre um buraco na estrada para permitir a passagem. A vista do Rio São Francisco com suas águas caudalosas e suas margens cobertas de verde ameniza a visão desoladora de pobreza e sofrimento que vimos no trecho habitado da Ilha.
A Ilha é marcada pela extrema pobreza. Noventa por cento das casas é de pau-a-pique (taipa). Algumas não tem sequer janelas, no lugar são colocadas varas para evitar que animais possam entrar. Tão baixinhas e mirradas eram que precisávamos nos curvar para poder entrar. O piso é de chão batido. Segundo Cristina, a fome por essas bandas é uma companhia constante. Fazer as três refeições diariamente ainda é um “luxo” para algumas dessas famílias. A contemplação desse cenário inóspito levou nossa irmã Rose às lágrimas mais de uma vez, ao longo de nossa breve peregrinação pela Ilha Juremal. Apesar disso, é um povo receptivo. Fomos convidados a visitar e orar por algumas pessoas o que fizemos com grande satisfação e falamos da única e verdadeira esperança: Jesus Cristo.
Reunidas as crianças e, com o auxilio de Creuza, eu lhes contei a história “A alegoria das ferramentas”, consegui arrancar risos das crianças com as minhas tentativas toscas de dramatizar a narrativa dando voz às ferramentas. Depois o Dino instruiu as crianças como fazer a higiene bucal e distribuiu kits de higiene para todas elas contendo um sabonete, um creme e um fio e uma escova dental, material integrante das atividades do Projeto Xique-Xique. Rose encerrou esse momento contanto seu testemunho pessoal e desafiando os presents a crerem em Jesus. Foi um momento emocionante e, para mim, surpreendente, porque nunca tinha visto a Rose falar em público e de uma maneira tão desambaraçada.
Na sequência Jaderson, já quase sem voz, mas visivelmente entusiasmado por estar ali, proporcionou momentos de grande alegria para a criançada com uma série de brincadeiras. Posteriormente foram distribuidas sandálias tipo “crocs”, uma par para cada criança junto com um livro contendo exercícios e brincadeiras utilizando conteúdo bíblico. Este material é resultado de um convênio do Projeto Fonte do Saber com Sociedade Bíblica do Brasil.
Após realizarmos nossas atividades missionárias, Cristina levou-nos para vermos o Rio de perto. Então, o Edson, sem maiores comentários tirou a camisa e lançou-se às águas e em seguida Jaderson fez o mesmo, provocando em mim uma inveja enorme já que eu não estava com vestes apropriadas. Depois de uma breve hesitação eu e Paulo, o outro componente da equipe que não havia trazido roupas de banho, pulamos nas refrescantes águas do “Velho Chico” do jeito que estávamos. As mulheres preferiram manter-se apenas na observação do Rio, pois o lugar era bastante fundo e com correnteza. Ai somente os fortes se arriscam. (risos).
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A
tarde foi a vez de Francisco e Rita proferirem
palestra para as crianças e adolescentes
do Projeto Fonte do Saber na escolar, sobre a importância das escolhas e da
tomada de decisões na vida. Tomando a história de Jonas com referência os palestrantes chamaram a atenção das
crianças e adolescentes para que continuem estudando e procurando aproveitar as
oportunidades que lhes são oferecidas agora a fim de poderem vivenciar um
futuro melhor para eles e suas famílias. Francisco e Rita destacaram, também,
que às vezes o tempo se esgota para se tomar certas decisões por isso é
importante que sejam diligentes.
Natália prosseguiu fazendo tratamento odontológico. Os resultados positivos foram visíveis nos sorrisos e no aspecto da boca das criancas. André ficou assustado com o que vira e comentou sobre a situação precária dos dentes de muitas crianças. Em algumas havia verdadeiros buracos que chegavam ate a gengiva. Após o tratamento ele mostrou-se admirado com a melhora. Eu, pessoalmente, ouvi um comentário de algumas mulheres sobre uma crianca que tivera os dentes tratados elogiando o trabalho realizado. Isso nos deixou muito felizes, paricularmente nossa querida
Dentista e seus eficientes auxiliares André e Marlene. Aliás, Marlene foi a responsável pela organizaçao da agenda e pelo apoio logístico ao serviço de atendimento odontológico. Efetivamente Marlene e Dino vem desenvolvendo esse apoio logistico ao longo da viagem. Incansáveis esse casal parecia onipresente na prontidão em servir e atender as demandas que iam surgindo.
Durante a manhã sem poder dispor do consultório móvel as crianças tiveram que ser atendidas no consultório local da Prefeitura. Francisco assumiu a responsabilidade de transportar as crianças da escola para o consultório que ficava a alguns quarteirões, a uma distancia considerável.
Esta situação levou-me a questionar: por que, com um consultório odontológico móvel novinho, com dentista pago pela Prefeitura, há tantas crianças com problemas nos dentes, algumas com boa parte da dentição quase perdida?
Uma possível resposta está na cultura política estabelecida na região. Em Xique-Xique, como na maioria dos municípios nordestinos, tudo funciona movido pela boa ou má vontade do grupo político que ocupa o poder no momento. Ideologia de partido...? Esses politicos nem sabem o que isso significa. Predomina ainda uma antiga tradição marcada pela polarização partidária na qual os interesses de grupos e pessoas prevalecem sobre o interesse público. Não há preocupação com o bem da cidade e do povo. Caso um certo político apresente uma proposta de melhoria para a cidade, o razoável, em qualquer lugar, seria todos apoiarem. Porém, não em Xique-Xique. O mais comum e recusarem a proposta pelo motivo simplista daquele projeto, eventualmente, fortalecer politicamente seu autor. Essa mesquinheza faz o povo padecer, quer eleja candidatos ditos conservadores ou os chamados progressistas, a indigência politica é a mesma.
No final da tarde as atividades foram encerradas. Um fato marcante foi o pronunciamento da aluna Manuela, a garota com deficiência visual já mencionada anteriormente. Manuela agradeceu, em nome de sua turma, a presença e o trabalho da equipe enfatizando que foi importante para ela e para o Projeto as ações realizadas nesses dias. Enfim, aquele momento que ninguém deseja, mas que é inevitável na terra: tudo o que começa chega ao fim. Entre abraços e palavras de despedida, a emoção envolveu o coração de todos. O Projeto Xique-Xique chegava ao seu final deixando em todos nós uma saudade antecipada, mas também a sensação de paz e alegria pela oportunidade dada por Deus de participarmos dessa jornada missionária que, na simplicidade de suas ações, certamente, terá seu eco na eternidade para a glória de Deus.
Falha
nossa
Quero
fazer uma correção aqui. No post do dia 16/07 eu não mencionei a impactante
palestra ministrada pelo caríssimo Prof. Wendel sobre drogas. Foi muito
didática e instrutiva o que provocou boa participação das crianças e
adolescentes. Queira perdoar-me irmão.
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