segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A fé cristã e o debate atual sobre o meio ambiente

Javé Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para que o cultivasse e guardasse.”

(Gn 2:15, Bíblia Edição Pastoral).

Nos últimos anos multiplicaram-se as pesquisas sobre o impacto da ação humana no meio ambiente, e os resultados, que são catastróficos, têm ressoado no mundo merecendo destaque nos principais órgãos de imprensa.

O buraco na camada de ozônio só cresce a cada dia preocupando os povos e cobrindo o futuro com uma sombra aterradora. Estudos recentes não deixam mais dúvidas de que o mundo caminha, inexoravelmente, para um período de grave crise climática cujas conseqüências se estenderão para todos os âmbitos da existência, colocando em dúvida a viabilidade da vida na terra.

O paradoxal disso é que os países que mais contribuíram para a destruição do meio ambiente e a conseqüente desorganização do clima no planeta, foram aqueles ditos cristãos (tanto católicos como protestantes). Exatamente os que deveriam, por causa de sua profissão de fé, ser os mais responsáveis no trato com a natureza que é resultado do amor de Deus pela terra e seus habitantes.

Tal estado de coisas mostra que os cristãos foram mordomos infiéis (para usar as palavras da Bíblia), pois não dispensaram o cuidado necessário à herança que receberam para administrar. Antes, movidos pela ganância e pela sede de poder, os cristãos (?) usaram e, literalmente, abusaram dos recursos naturais e o que agora se vê são os gemidos, mas também, a resposta do ambiente aos maus tratos recebidos por tanto tempo.

O atual contexto é uma confirmação de que os cristãos falharam na missão de construir uma sociedade mais justa e fraterna. Optaram pela edificação de impérios (econômicos, políticos, religiosos, bélicos) onde somente uma minoria foi privilegiada enquanto milhões foram excluídos da possibilidade, sequer de ter o mínimo necessário à sobrevivência.

Gestou-se um estilo de vida predatório. Caríssimas construções; uma multiplicidade de eletrodomésticos que atulham casas e apartamentos; quantidade de roupas além do que seria suficiente; extravagantes hábitos de consumo e uso de tecnologias que distanciam as pessoas do contato com a natureza. Todos estes, são itens do estilo de vida das sociedades ditas modernas que consomem energia e recursos além do que seria necessário e, por fim, desencadearam o processo de destruição que agora se tenta desesperadamente remediar.

O momento é apropriado para que os cristãos reflitam sobre o próprio estilo de vida e como ele se relaciona com aquele proposto por Jesus de Nazaré. Em que sentido o estilo de vida dos cristãos questiona os não cristãos? Em que medida as igrejas cristãs estão preocupadas em cuidar do meio ambiente? Quantos de nós estamos (ou estivemos) envolvidos em alguma campanha defendendo o uso mais racional dos recursos naturais? Em que as minhas atitudes pessoais para com o ambiente servem de exemplo para outros? A responsabilidade dos cristãos para com o ambiente não é uma questão de ideologia política, mas de compromisso com o seu Mestre Cristo.

Em termos genéricos, as sociedades ditas cristãs, a julgar pelo modo como escolheram viver, parece não terem entendido bem o significado e as implicações de ser discípulo de Jesus. Mas, e aqueles que se dizem convertidos e que se vincularam formalmente a uma determinada denominação cristã, será que estes entenderam?

3 comentários:

  1. O pensamento cristão é o que coloca o homem como um "pequeno deus" superior aos demais elementos da natureza. Outras religiões enxergam o ser humano como parte de tudo isso, enquanto que no cristianismo e, salvo engano nas outras principais monoteístas, o homem é o ápice da criação: "imagem e semelhança de Deus".
    Distorção ou dedução do pensamento ali contido, o homem não tem empatia com o resto dos seres. Protege com todas as forças o uso de embriões em pesquisa (o que pode ser defensável a depender da crença) mas é indiferente (em sua maioria) com as torturas que se fazem em animais em pesquisas, muitas vezes para fins cosméticos. Mas mesmo com as que tem finalidades médicas, fica a minha pergunta: de onde vem a autorização para infligir dor e sofrimentos, dignos de filmes de terror, a seres vivos com a desculpa de que isso aliviaria a nossa dor? De onde vem esse direito? Apenas da certeza de que somos superiores a todos os outros seres. E essa certeza não é consenso na ciência, mas certamente o é na religião, principalmente na cristã. Em si não é um defeito, nem digo que está errada. Bem verdade que, mesmo com a noção de que temos todos os mesmos direitos, ainda nos sobraria o instinto de auto-preservação que aliado à nossa supremacia, no momento, nos faria usar os demais seres. Mas os dinossauros também já dominaram esse mundo, e hoje o que se vê deles?

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  2. No livro EM QUE CRÊEM OS QUE NÃO CRÊEM, coletânea de cartas trocadas entre Humberto Eco e Carlo Marti (bispo católico francês, o nome talvez não seja exatamente este) - o primeiro opina que o mundo laico é muito mais apocalíptico que o cristianismo atual. Basicamente, ele chama de apocalípticas as preocupações concernentes ao destino da humanidade no planeta terra, à construção de um sentido para a história (aliás, ele aponta que a noção de história com tendo uma direção é uma construção cristã, em contraposição às concepções 'pagãs' de tempo). Emboras tais preocupações assumam os mais diversos matizes, a questão ecológica é central em boa parte delas. Ressalta Humberto Eco que o cristianismo atual se posta de maneira alheia e desimplicada à estas questões, como se elas não lhes concernessem.

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  3. Os impactos negativos do conjunto de problemas ambientais resultam principalmente da precariedade dos serviços e da omissão do poder público em relação à prevenção das condições de vida da população mundial, porém é também reflexo do descuido e da omissão dos cristãos em esfera particular. Os bairros mais carentes de infra-estrutura colocam em xeque aspectos de interesse coletivo. A postura de dependência e de desresponsabilização dos cristãos decorre principalmente da desinformação, da falta de consciência ambiental e de um déficit de práticas comunitárias baseadas na participação e no envolvimento dos cristãos. A igreja deve propor uma nova cultura de direitos baseada na motivação e na co participação da gestão ambiental.

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