segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Reencantar-se

Quando crianças tudo nos chamava a atenção e era novo. Todas as coisas pareciam guardar um segredo que precisava ser desvendado; tudo que passava ante nossos olhos parecia encantado, misterioso e despertava nossa curiosidade.

Com o tempo, porém, e com a convivência com os mais “velhos” e já, por assim dizer, “maduros”, fomos nos acostumando a ver tudo de forma rotineira; aprendemos que para todos os fenômenos há uma explicação científica ou do senso comum. Tudo foi se tornando óbvio, corriqueiro, sem encanto, e assim, acabamos perdendo também a capacidade de nos surpreender diante de coisas, fenômenos, imagens e pessoas.

Enfim, nos tornamos também “maduros” e parceiros inseparáveis da rotina. O dia passa a ser bom quando não há nada de surpreendente no nosso caminho. Achamos que o dia foi bom quando conseguimos cumprir nossa, por vezes, insossa agenda, sem que nenhum intruso – seja pessoa ou acontecimento – nos atrapalhe. Parece que à medida que nossa racionalidade vai se desenvolvendo, nosso coração, nossas emoções e nossa capacidade de perceber com a alma vão se atrofiando. Aos poucos as coisas, ocorrências e a própria vida, vão se tornando assustadoramente normais.

Guiados por um doentio pragmatismo vamos inquirindo sempre sobre que proveito se pode tirar das situações e até das pessoas. Não conseguimos mais ser gratuitos. Acabamos nos adaptando a esse mundo onde tudo tem uma etiqueta indicando o preço e a utilidade.

Nos tornamos previsíveis em nossas ações e palavras. Ninguém ousa dizer, fazer ou pensar algo que esteja fora do roteiro morno que a sociedade estabeleceu como padrão. Poucos ousam sair da jaula onde os comportamentos já estão todos previstos pelos gurus encrustados em suas torres de marfim, seja nas academias de ciências, seja empoleirados no púlpito do congresso nacional ou de alguma igreja, tanto faz, seus discursos e suas práticas não causam a mínima inquietação.

Talvez seja hora de fazermos algo diferente. Sonharmos com as possibilidades de Deus para nós. Sairmos do chão batido para exploração de novas terras, criar trilhas novas na existência. O próprio Jesus afirmou que o Reino de Deus está dentro de nós e que faremos obras maiores que aquelas que Ele fez, se tivermos fé (João 16:12), afinal “se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (II Co 5:17).

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